segunda-feira, 2 de abril de 2018

Tirana...a capital fervorosa da Albânia

19.02.2018

Com pouco tempo para explorar a cidade decidimos fazer uma "free walking tour". Revelou-se uma decisão acertada: todas as manhãs com ponto de encontro marcado às 10h na praça em frente à casa da ópera, o guia é um voluntário local que nos leva a pé pela cidade, enquanto explica sobre a história do país  e vai partilhando também um pouco da sua estória pessoal, que estão naturalmente ligadas. A verdade é que ficámos a saber muito mais do que se passeássemos sozinhos por ali. À semelhança do que acontece neste modelo de "tours" noutros locais da Europa, as visitas não são pagas mas é justo dar-se no final um valor que pode ser à medida na nossa carteira, como forma de agradecimento.

Praça central de Tirana, à noite, com vista para o Museu de História Nacional e respectiva iconografia do período comunista

Factos interessantes sobre a Albânia:

- Existem como povo há mais de 4000 anos (os Ilirios) mas têm uma história rica em invasões estrangeiras. Esta zona dos Balcãs corresponde historicamente à fronteira entre o império de Roma e o Otomano. Por isso e tendo apenas em conta apenas as principais forças ocupantes (e que deixaram marca na história da Albânia..), primeiro instalaram-se romanos, depois os turcos (império Otomano) e durante a segunda guerra mundial foram ocupados pelos italianos e de seguida muito brevemente pelos alemães. Como um pouco por toda a história europeia, uma das principais forças opositoras aos colonizadores durante a II Guerra Mundial foi o Partido Comunista da Albânia, liderado por Enver Hoxha. Não existiu só esta frente anti-fascista, mas o final da luta pela libertação da Albânia deu o poder ao Partido Comunista. A política de Enver Hoxha levou a Albânia progressivamente ao isolamento total do resto do mundo, inclusivamente das grandes potências comunistas da altura, a Rússia e a China.

 - Os poucos turistas que visitavam a Albânia nos anos 80/90 tinham de pedir autorizações especiais e eram fortemente vigiados pela policia secreta enquanto se encontravam no país.
 - A população era mantida sob um intenso programa de propaganda e acreditavam mesmo que eram a "maior nação do mundo" (onde é que temos ouvido este conceito, recentemente..!?). Dizia Enver Hoxha, que "o que se sofria no país não era nada em comparação com o que se vivia nos outros países, que estavam muito mas muito piores que a Albânia". Completamente isolados do mundo, não havia forma de se conseguirem comparar com os "outros".

- Não conheciam produtos de "fora"...até o regime cair, nunca tinham provado uma coca-cola ou sequer visto uma banana. Não havia escolha nas roupas que vestiam, nos sapatos que calçavam ou no mobiliário que tinham em casa. Tudo era igual para todos e fornecido pelo estado.

- A população vigiava-se a si própria, em que o programa de propaganda fazia os albaneses acreditar que quem saía da "norma" devia ser denunciado à polícia.

- Até 1991 não era possível aos particulares possuírem carros...o que justifica o mal que conduzem!

- Também até 1991, os Albaneses não podiam viajar para o estrangeiro. As fronteiras eram guardadas por soldados armados e cães, e os que tentavam atravessar pelo arame farpado, era mortos a tiro pelas costas sem dó nem piedade.

- Depois da queda do muro de Berlim, tal como nos restantes países comunistas à volta, o regime cai e só depois de 1992 os albaneses começam a ter liberdade para escolher o que queriam comprar, incluindo produtos que vinham de fora da Albânia.

- Diz o guia, que a partir de 1992, havia latas de refrigerantes coloridas nos muros cinzentos das casas, como sinal de modernidade...

Agora...entendemos os prédios coloridos espalhados pela cidade! Tirana moderna é de facto excitante. Há um clima de entusiasmo generalizado, numa capital cheia de jovens e com cafés a abarrotar.

Um exemplo das cores nos prédios de Tirana
Os cafés cheios de gente nova
A estética das mulheres albanesas mostra como este país não vive mais o cinzentismo do regime comunista
- Sobre religião, diz-nos também o nosso guia, que independentemente do que dizem os sites de turismo sobre Albânia ou o Lonely Planet (o nosso diz que a Albânia tem 70% muçulmanos, 20% ortodoxos e 10% católicos), ali se discute politica mas não religião. Regra geral, os albaneses não são um povo religioso (o que penso ter a ver com o regime comunista que a certa altura proíbe toda a forma de culto religioso com perseguição a quem não cumpre) embora haja um recente financiamento por parte da Turquia para a construção da maior mesquita albanesa...

- O actual primeiro ministro albânes é artista plástico e isso nota-se por toda a cidade. Há instalações artísticas por todos os lugares inesperados a serem descobertos...

O que sentimos sobre Tirana? Que é um lugar que definitivamente vale a pena explorar. E ainda nos atrevemos a dizer: "deixem-se de coisas e atrevam-se a vir descobrir Tirana!

  




By Silvia (e Pedro)  

segunda-feira, 19 de março de 2018

Cidade das mil janelas

17.02.18

Em Berat há um equilíbrio interessante entre a antiguidade do património antigo dos Otomanos (bairro Magalem, atrás) e a modernidade dos habitantes mais jovens

Acordámos em Berat a pensar que tínhamos que mudar de sítio para dormir. Mesmo com os trocos contados, uma diferença de um ou dois euros na dormida não justifica uma constipação (a casa era mesmo bastante fria!). Se vierem para estes lados no inverno, certifiquem-se que o sítio para onde vão tem o aquecimento a funcionar. Há sítios que são muito bonitos para o verão mas que não servem para esta altura. Mas o passeio matinal deixou-nos convencidos que valeu a pena a viagem!! Berat é, sem dúvida, O sítio a ir. A cidade é antiga com duas zonas residenciais separadas pelo rio Osum (Gorica e Magalem, na margem esquerda e direita).


Bairro de Gorica, visto de Magalem

Ponte Gorica

Rio Osum em Berat, com o bairro de Gorica no lado direito

Património da UNESCO para a Humanidade desde 2008, tem um estilo arquitectónico único que mostra a coexistência de diferentes civilizações ao longo do tempo. Um exemplo disso é a ponte Gorica originalmente construída por volta de 1700, que ainda mantém a sua traça original apesar das sucessivas reconstruções. O castelo permite também visualizar bem a cidade e a forma como cresceu ao longo do vale. As ruas são estreitas e íngremes, com pedra calcária fina irregular, monte acima. As casas são de pedra antiga, recobertas de ripas finas de madeira, revestidas com barro e cal branca. Nota-se que há vontade em preservar a identidade original da cidade.



Há uma sensação de antiguidade em cada rua que se passa. As portas são de madeira e cada casa tem uma ao seu estilo, todas mantidas as antigas... os telhados que protegem os actuais residentes "vê-se" que são os mesmos que protegeram os seus antepassados. Como no resto do país, as montanhas com os cumes brancos impõem-se, rodeando a cidade.

Vista geral para Sul de Berat, a partir do castelo
O Castelo 
A dinâmica de Berat é bastante interessante...Com um ritmo tipicamente albanês, as pessoas vivem muito a rua e os cafés. De manhã aproveitam o sol frio que brilha e caminham ao longo das margens do rio, passando muito tempo em grupos a jogar damas e xadrez, ou simplesmente nas esplanadas. Apenas quando o sol se põe é que a dinâmica da cidade acalma chegando a parecer meio fantasmagórica com as suas casas brancas, a pairar em cima do rio...
Jogar dominó ou xadrez é muito comum nas ruas desta cidade e em todo o país, parece.
Vista geral da parte baixa, onde os principais cafés e comércio se situa

Cafés e esplanadas cheias de vida

Em Berat, faz como os locais...aproveitámos bem o óptimo café nas tardes solarengas de Inverno

Em poucos dias temos de regressar a Lisboa. Teremos de apanhar o primeiro avião em Tirana por isso, com pena por não podermos explorar um pouco mais a Albânia, Berat marca o ponto mais a sul da nossa viagem. Mas deixámos o melhor para o fim. Temos ainda uns dias para explorar a capital deste país tão surpreendente. Acompanhem-nos nesta descoberta!

By Silvia and Pedro

quarta-feira, 7 de março de 2018

Rumo a Sul..."p'ra Berat"!

16.02.2018

Passámos o dia todo em viagem...
1. Shkoder- Tirana; 2. Tirana- Fier; 3. Fier - Berat
Queríamos ir até Berat. O que olhando para o google maps seriam de Shkoder (onde estávamos) e passando por Tirana, cerca de 200 km. Em Shkoder percebemos facilmente onde se apanhavam os autocarros para a Capital (Tirana) e que havia com bastante regularidade.

Existem dois tipos de autocarros:
- Os maiores saem a horas certas, havendo de hora em hora e custam entre 300 a 400 Lek (cerca de 2,5€).
- Os mais pequenos, a que chamam "furgons", partem quando enchem de gente, são mais rápidos e um pouco mais caros, entre 400 a 500 Lek (cerca de 3,5€).

No sitio onde tínhamos dormido em Shkoder, incluía pequeno almoço. E eu quis aproveita-lo...o que significou esperar até às 9.30, quando a mocinha chegava com os "bureks" e croissants directamente da "Furre" (padaria) mais próxima :) Estavam bem bons... mas graças a isso, só conseguimos apanhar o autocarro (o grande) às 10.45.

Foi uma viagem bastante tranquila. Os autocarros são antigos mas estão bem mantidos, em que pagámos 300 Lek (2€) e chegamos a Tirana por volta das 12h. E ai começou a confusão... Tínhamos lido que para Berat os "furgons" apanham-se em frente à nova igreja ortodoxa. O problema é que... há pelo menos 3 igrejas ortodoxas no "google maps". Qual é a nova? Escolhemos a que nos pareceu mais lógica e... Perdemos-nos, encontrámos, para depois percebermos que não era ali. As horas iam passando e nada de conseguirmos encontrar o sitio para apanhar o transporte. É mesmo "tricky".

Finalmente, por volta das 15h, encontrámos o sitio de onde partem os "furgons". Mas... o problema prolongou-se. Com pouco turismo no inverno, não há nenhum que sigue para Berat. A alternativa era ou voltarmos para o terminal de autocarros (a cerca de 2 km de distância) e arriscarmos a não apanhar o último (que tínhamos lido ser pelas 15h), ou fazer o que um policia nos sugeriu: apanhar um "furgon" para Fier (que nem sabíamos onde era) e de lá apanharmos outro para Berat. Optamos pela segunda hipótese. O nosso percurso foi mais ou menos o do mapa na foto!


Chegámos pelas 18 horas... noite cerrada e moídos até dizer chega. O importante é que chegámos à cidade otomana de Berat. ao longo da viagem tivemos várias experiências etnográficas, incluindo viajar com sacos com galinhas a tentarem escaparem-se pelos seus buracos.


Berat pareceu-nos frio, húmido e cheio de gente de todas as idades a passear na rua a uma sexta feira a noite. Bastante convidativo! A descoberta a sério ficou para o dia seguinte...


by Silvia



domingo, 25 de fevereiro de 2018

Albânia, here we are!

15.02.2018




 Chegámos à Albânia! Estamos em Shkodra e o Pedro sofreu uma decepção enorme (tipo "quadro do menino com lágrimas nos olhos")... As estradas para as montanhas estão cortadas por causa do nevão!
Tínhamos considerado fazer a caminhada que muita gente considera das mais bonitas, entre Teth e Valbone, nos Alpes albaneses (embora soubéssemos que havia forte possibilidade de não ser possível devido ao tempo). Nem que pelo menos desse para irmos até Teth e fazermos uma caminhada mais curta por lá. Mas demonstrou-se impossível. Então...tivemos de considerar planos B. 

Decidimos ficar por Shkodra mais uma noite, para avaliar as nossas alternativas. Esta cidade quase fronteiriça, fica perto do lago também com o mesmo nome, característico pelo seu formato em "golfinho", em que metade fica em Montenegro e a outra metade na Albânia. Um amigo que passou por estes lados no verão, referiu que uma das coisas que mais gostou, foi descobrir Shoker de bicicleta. Pegámos na experiência positiva dele (obrigada Fábio!) e fomos descobrir o grande lago que dá nome à cidade.



Até sairmos da cidade, foi o caos! É completamente diferente das de Montenegro. Há um clima meio turco/marroquino (talvez resultante da influência otomana que ocupou este território) com um trânsito caótico de carros, bicicletas e pessoas a atravessarem-se à frente. Vale-nos os carros passarem por nós com um cuidado que não existe em lado nenhum em Portugal.
Assim que chegámos ao lago, ficámos deslumbrados pela paisagem. Uau! Inexplicável...


 

E a cereja no topo do bolo foi um almoço num sitio mesmo em frente ao lago, com vista para as montanhas cheias de neve na outra margem, ao calor de uma salamandra...


Detalhe de uma Albânia contemporânea...
By Silvia    

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Montenegro, em 3 tempos!

14.02.2018

Estamos a dizer adeus a Montenegro, para saudarmos agora a Albânia.

Fronteira entre Montenegro e Albânia. Dentro do autocarro, ainda em solo Montenegrino, vemos ao fundo as montanhas dos Alpes Albaneses ao fundo, cheias de neve.
Faz-nos sentido agora, a jeito de fecho e para quem queira vir para estas bandas, fazer um pequeno apanhado de algumas informações sobre Montenegro.

Capital: Podgorica (diz-se "Pogdoritza").
Moeda oficial: para já, é o euro (a União Europeia autorizou a sua utilização enquanto não instituem a moeda própria, já que são um país muito recente). 
ATM´s: há-os relativamente bem distribuídos por todas as cidades. Pode-se pagar com cartão em praticamente todo o lado.
Não é necessário nem visto, nem passaporte. Se forem cidadãos da União Europeia, o cartão único é tudo o que precisam de levar. 

Comunicação:

A língua oficial é o Montenegrino, uma versão "alterada" do sérvio.
Algumas palavras e expressões que nos deram jeito:

- Obrigada: Hvala (diz-se "rvala", com o r meio engasgado...)
- Olá: Zravo (exactamente como se lê)
- Sim: Da
- Não: Ne
- Ok: Dobro
- Adeus: Do videja ("dovidenia")
- Padaria: pekara
- Eu sou vegetariano: ja sam vegetarijanac (diz-se "ya sam vegetarianatse")
- Queijo: sir
- Sem carne (mais, "não carne): ne meso

Comida:

Nas montanhas, os pratos são muito a base de carne...estufados. O queijo, "sir", é óptimo. Bem como o iogurte. Também se come muito pimento, principalmente o vermelho. Para os vegetarianos, um prato típico que podem experimentar é o "Kačamak", feito de batatas e/ou farinha de milho, que fica tipo uma polenta forte. O "Burek" é um pastel folhado típico dos Balcãs. Há em todo o lado e pode ter carne, queijo, vegetais ou cogumelos. É quase um "fast-food" local, baratinho mas um pouco gorduroso para estar a comer a toda a hora.

Na costa, a comida é mais à base de peixe e no geral mais leve para as nossas artérias e coração. Normalmente vem acompanhada da "guarnição dalmata", que é uma mistura de batatas cozidas meio esmagadas, alho, azeite e uma verdura.

Restaurantes  a que fomos e podemos recomendar:

- Podgorica (frequentado por locais): Grill Beli
- Granhovo (restaurante numa casinha em madeira a beira da estrada): Stara kuĆa
- Kotor (restaurante familiar): Scala Santa
- Budva (para peixe): Jadran Kod Krsta
Restaurante Stara Kuca (Granhovo)
Restaurante Scala Santa (Kotor)
Transportes:

Se perguntarem acerca do comboio, o mais provável é dizerem-vos que não há. Haver há... mas são antigos, a cobertura da linha muito limitada e os horários não são os mais interessantes para quem tem pouco tempo para explorar o país. Nós não conseguimos chegar facilmente à informação e por isso não chegamos a usar.
Autocarros, há bastantes. A informação...também não é muito fácil de conseguir na internet. Quando perguntámos num posto de turismo, pesquisaram no link busticket4me. Foi o que começamos a fazer mas atenção que há mais autocarros do que os que lá aparecem. O preço é consoante a companhia que faz o transporte e diferentes horários são feitos por diferentes companhias. Se comprarem via busticket cobram 1 ou 2 euros a mais do que se comprarem na bilheteira do terminal de autocarros um pouco antes da viagem. Podem ter de pagar um extra por colocarem as malas na bagageira...

Aluguer de carro é boa uma opção se quiserem explorar áreas onde os transportes públicos não chegam. Alugámos pela booking, um carro que supostamente iria ficar a 6,5€/dia. No entanto, quando chegámos, acabaram por nos cobrarem mais uma serie de extras. Acabou por ficar por 19€/dia...mas era um carro bastante bom para irmos para as montanhas.  
Disseram-nos que em Podgorica os taxis dentro do perímetro da cidade são sempre 1€ por viagem, independentemente dos locais (com excepção de e para o aeroporto que fixam a cerca de 5-6€ para locais e 10-12€ para turistas).

Dormidas:

Escolhemos quase sempre as opções mais em conta, com marcação pelo booking (pela facilidade). O pagamento é feito directamente nos hostels/apartamentos. Atenção que em muitos deles cobram uma taxa de turismo extra por pessoa e por noite, que varia de sitio para sitio e pedem para tirar copia dos cartões de cidadão. Os que podemos aconselhar:
- Em Kotor: Old Town Hostel (dentro da cidadela) ou Hostel PUPA (apenas dormitório mas muito bem organizado e com boas condições)  
- Em Cetinje: as opções são no geral mais caras do que em qualquer outra lugar em Montenegro. Ficámos na Casa Calda.

Por último...há cães em todo o lado. No geral são amistosos e se forem um Pedro, irão seguir-vos para todo o lado.


Boas viagens à descoberta desse país de história, montanhas e costa incríveis!!

By Silvia e Pedro
  


segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Budva...o Algarve cá do sitio

13.02.2018



Saímos da neve...para a chuva. A neve que tanto encantou o Pedro (isto porque depois de uns meses em Tromsø já não sou tão facilmente encantável por ela), em Cetinje, transformou-se numa chuva chata em Budva. Uma cidade costeira que cresceu ao estilo “Algarve de veraneio”, anexada à encantadora citadela. A parte antiga, da época medieval, são ruas estreitas com edifícios de dois andares de pedra calcária (quase uma mini Kotor). Igrejas antigas e muralhas da fortificação, mesmo ao lado do mar. Iates gigantes convivem ao lado dos tradicionais barcos dos pescadores.


Esta terra vê-se que outrora foi de pescadores. Hoje é uma estância balnear com um urbanismo confuso e meio caótico. Nesta altura de inverno está com uma aura de abandono e só nos resta deambular pelas ruas “meios pingos” de molhados que estamos, enquanto procuramos um sítio para eu finalmente comer as prometidas lulas grelhadas, a preços sobrestimados (em relação aos preços a que temos conseguido comer). Aqui não há grande escapatória. Mesmo no inverno, os únicos restaurantes abertos, praticam os preços de uma época alta de verão. Resta-nos apreciar o mar a nossa frente, o vinho tinto montenegrino, a decoração tipicamente “pesco-kish” e a simpatia dos empregados, com ar de comandantes de iates a caminhar para a reforma.



By Silvia

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Cetinje: a cidade real debaixo de neve

13.02.2018
Estamos em Cetinje (lê-se “Cetinhe”) e fomos surpreendidos esta manhã quando abrimos a janela com um verdadeiro nevão!

Nevou a noite inteira e a neve já acumulou quase meio metro no chão. Cobre tudo, todas as árvores. Estávamos quentinhos na cama (eram 7.30) mas com esse cenário, levantamos-nos tipo mola. Rapidamente fomos ver a cidade debaixo do branco. Parece-se completamente diferente de ontem à noite. É encantadora. Os edifícios são coloridos, bem preservados e envoltos em clima histórico. Sabíamos apenas que lhe chamam a cidade “royal”.




Assim que chegamos, fomos abordados em inglês por um local (as nossas mochilas denunciam-nos imediatamente como turistas), que nos perguntou de onde éramos. Quando dissemos “Portugal”, ele responde: “ah, Lisabonne...Samarago!!” (O erro ao nosso Nobel Saramago é bastante perdoável quando nós passamos o tempo a dar pregos na língua deles!). Uau...algo é diferente neste lugar...quando as referências ao nosso país são à literatura e não ao futebol!
Cetinje dá vontade de passear e explorar. No entanto, parece que o que é mais frequente são visitas passageiras. Turistas chegam em grandes autocarros de excursão, despejam pessoas para visitar os palácios e os museus durante umas horas, para depois regressarem aos respectivos autocarros e seguirem rapidamente os seus caminhos. É pena. Há aqui tanto mais!!

Os edifícios são maioritariamente do início do século XX. Há bastantes que são peculiares mas um dos mais interessantes (até pela sua estranheza), é da antiga embaixada francesa. Resa a história que foi encomendado para ser a embaixada francesa no Cairo mas por um erro na morada dos correios, veio parar a Cetinje, nos Balcãs. Ficou... e toda a cidade o tem como um dos mais emblemáticos, entre outras particularidades, pelos seus azulejos coloridos.
Esta é uma cidade jovem, de estudantes. Das artes, da literatura. Aqui todos falam (e gostam de falar), Inglês. Os cafés são com carácter e há os para todos os gostos: o dos “freaks”, o dos cinéfilos, o dos hippies, os da moda...enfim!

Algo que não conseguimos habituarmo-nos foi o fumo do tabaco em locais fechados. Uns anos de políticas anti-tabagistas em Portugal “habituaram-nos bem” e agora aqui, que se fuma em tudo o que é restaurante e café (não só nesta cidade mas em todo o Montenegro), deixa-nos bastante incomodados (sensação de roupa a cheirar a fumo de tabaco constantemente!). Mas aqui parece que fumar ainda é encarado como “trendy”: novos e velhos estão constantemente com um cigarro na mão.

Kotor!

12.02.2018

Chegamos a Kotor sem noite marcada, perto das 18 e já era noite cerrada. Sendo uma cidade rodeada de montanhas por todo o lado, a luz do dia cai mais cedo do que o que estamos habituados. Encontramos uma solução de última hora e percebemos que a razão para tudo estar esgotado era o carnaval. Kotor celebrava 500 anos de carnaval de inverno (semelhante ao de Veneza)...o que até nos valeu umas bebidas à borla no jantar!

Kotor está em tudo o que é brochura turística sobre Montenegro...e por uma boa razão. É bonito, a caminhada ao longo das muralhas até ao cimo da montanha onde está a fortaleza é algo muito particular. A baía no mar Adriático é encantadora. As ruas no interior da muralha são interessantes mas o turismo massificado mudou-a e aos habitantes, que com razão têm uma convivência de amor/ódio com os turistas. Há imensos gatos...o que por si é engraçado, mas sendo as ruas e casas todas de calcário, significa cheiro a areia de gato por todo o lado. Isto, no inverno...nem posso imaginar no verão!

       

By Sílvia 

A baía é toda rodeada por paredes íngremes, com uma presença forte, milenar e tranquila. Percebe-se o porquê da população se ter assentado naquele local: mar calmo para pescar e para sair para o Adriático, ao mesmo tempo que estavam totalmente abrigados de possíveis investidas marítimas inimigas. Cada degrau que subíamos na paisagem, Kotor revelava-se no seu todo. À distância a sua cor funde-se na rocha envolvente, enquanto na proximidade a sua cor de calcário creme, distingue-se.


Ao subirmos a escadaria das muralhas estamos sempre a ouvir a música local (aka pimba montenegrina) de celebração carnavalesca. Estamos demasiado expostos a ela, até que descobrirmos uma janela com um caminho até uma igreja abandonada, à entrada de uma depressao na rocha. Aqui aproveitamos para fazer uma pausa e almoçarmos. Somos bafejados por uma tranquilidade grande, um silêncio onde apenas ouvíamos os pássaros. Um abrigo dentro da baía de Kotor.

O mar plano funde-se com a verticalidade da paisagem no topo coberto de neve. Um prelúdio para o que viria a seguir...

By Pedro


terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Montanhas, vales e lagos

Saímos de Nikšic para a costa, atravessando uma parte das montanhas (e deixando os impressionantes  lagos à saída da cidade).
Lagos artificiais a saída de Niksic e os novos amigos do Pedro
Depois de pensarmos sobre a forma de nos deslocarmos por Montenegro, decidimos alugar um carro. Não que não houvessem autocarros (até há bastantes) ou comboios (com pouca cobertura e muito poucos horários). Mas iríamos demorar muito mais tempo e não teríamos hipótese de explorar locais onde os transportes não chegam. Claro que demoramos muito mais tempo a chegar a Kotor do que o que o google maps previu...


Saímos várias vezes do percurso. Uma delas para fazermos um pequeno passeio a pé, do sopé da montanha até um vale, onde se concentram pequenos locais com casas bastante dispersas. A paisagem é composta somente por calcários (o Pedro versão geólogo passou o tempo a falar em dobras “assim e assado”!). A vegetação está seca do frio do inverno, quase como ardidas, com o topo das montanhas cobertas de neve.

O que nos choca, é o lixo. Não há ainda hábitos nem de reciclagem (até nos doi a alma sempre que  temos de deitar para o lixo normal vidro ou plástico tudo junto), nem grande consciência ambiental no geral. Na beira da estrada várias vezes se veêm sacos do lixo despejados sem pudor, roupa velha, mobiliário e até animais mortos. É uma pena...mas pensando no que acontecia em Portugal 30 anos atrás, talvez não fosse asssim tão diferente.
As casas nos vales estão cuidadas mas também parecem algo abandonadas. Como se as pessoas tivessem desistido de ali viver permanentemente e foram tentar a sua sorte noutro local. Talvez venham nas férias. Algo também bastante similar ao que se passou em Portugal em tempos.

Ficámos com pena de não encontrar alguém com quem pudéssemos conversar para perceber melhor o que se passa por ali.
As estradas principais são boas e recentes. Mas atenção às estradas não marcadas. Sabe-se lá onde vão parar...rapidamente nos confrontamos com o desconhecido. Não há placas. Não há informação ou “viva-alma” (pelo menos nesta altura do ano), para pedir indicações. Facilmente se passam fronteiras e nem se percebe como...
By Silvia

sábado, 10 de fevereiro de 2018

Diz que as montanhas são selvagens e os “pivos” são fortes!

Estamos em Montenegro!!


A nossa passagem por Podgorica foi o mais rápida possível. Confirmou-se o que nos disseram. É uma cidade que vestiu o véu do capitalismo com toda a sua convicção (o Pedro não partilha da mesma opinião que eu). Para eles, parece que a modernidade são os centros comerciais. As mulheres são especialmente cuidadosas com a aparência e deixam um rasto de perfume forte à sua passagem...capaz de sufocar os mais preparados.
Almoçamos num restaurante recomendado por uma Montenegrina. Lilia estava sentada ao meu lado no avião de Charleroi para Podgorica, quando reparou que eu estava a tirar notas de um guia sobre Montenegro e resolveu dar uma ajuda. Entre o meu francês arcaico e o inglês básico dela, falamos um pouco. Depois de lhe dizer que queríamos fazer uma caminhada nas montanhas, disse-me com um ar preocupado: “c'est sauvage!!!”. “Vou-te dar o meu número de telefone para se tiverem algum problema. Mas tenham cuidado!!”
Primeira impressão pela experiência com esta montenegrina de gema, emigrada 9 anos em Bruxelas, é que são simpáticos e empáticos.
Então, como tínhamos reservado carro no aeroporto, por sugestão do Pedro, oferecemos-lhe boleia, pela simpatia. Mostrou nos onde podíamos comprar comida local ou comer bem (ia morrendo logo com uma artéria bloqueada com tanta carne gorda! Mas havia alternativas vegetarianas igualmente gordas para o Pedro :)).

Dissemos depois do almoço adeus a Podgorica (sem grande mágoa) e seguimos para Noroeste, em direção ao mosteiro de Ostrog. Chegamos a tempo da missa das 6 da tarde. Impossível descrever esse lugar, essa atmosfera!


O mosteiro foi construído entre 2 grutas na montanha, em rocha vertical, por monges ortodoxos que fugiram da Bosnia- Herzegovina, no século XVII. Os incríveis frescos foram feitos mais tarde mas inserem se perfeitamente no cenário quase mágico do lugar. Antes de irmos embora, enchemos as nossas garrafas de água abençoado e seguimos caminho até Nikšic, onde tínhamos reservado quarto para a noite pelo booking. Aqui, é a forma mais fácil de encontra lugar para dormir. Consegue-se noite por 18-19 euros, para dois, pagando mesmo no local. O quarto era bastante aceitável, no entanto...ficamos com a sensação que faltavam alguns...acabamentos. Compensou talvez (ou talvez não), pela perfume que foi generosamente borrifado pelos lençóis.




O Pedro, aprendeu uma grande lição: as chaves de Montenegro são feitas de uma liga metálica demasiado fraca para abrirem um “pivo” à “moda cowboy” português.
De manhã, saímos de mansinho (com a devida compensação pela chave partida) e seguimos, rumo as montanhas!



By Silvia